segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O dia (da) S

Vieste antes do tempo porque a mamã teve um problema e tiveram que te ir buscar mais cedo. No dia anterior a mamã foi a uma consulta no hospital e já não a deixaram vir embora (3 dias antes a mamã já estava de baixa: colo do útero extinto a 80% e 2 dedos de dilatação, mas isso foram peanuts, como se costuma dizer).
Estava com Síndrome HELLP, que é uma variação de pré-eclâmpsia e difícil de ser detectado, porque os sintomas podem passar despercebidos. O único sintoma, a olho nu, que a mamã tinha era uma forte dor na zona do estômago sobre o lado direito e nesse dia penso que começou a falência renal.

Quando a mamã chegou à consulta, fez uma fitinha pequenina, chorou e disse à Sra. Dra. que não aguentava as dores no estômago (tinha passado os dias anteriores a Kompensan e Ben-U-Ron, mas sem adiantar de nada). A tensão estava normal, mas a Sra. Dra. mandou a mamã fazer umas análises e lá acusou os problemas relacionados. Já em Obstetrícia, a Dra. M. disse que ia ficar internada. Análises repetidas algumas vezes e lá vem novamente a Dra. M. dizer que ia ser já! A mamã não percebeu logo o “já”. Mas não há muitos significados para esta palavra, pois não? Fiquei com tanto medo…. Fui para indução e fazer medicação para a tua maturação pulmonar (dexametasona). Mas nada de nada. Acusava algumas contracções, mas nem as cheguei a sentir. Dilatação também nada. Como as plaquetas já estavam a níveis lastimáveis (40 em 150 a 400) nem sequer podia fazer epidural.
De repente entram algumas pessoas pelo quarto dentro. Sem saber bem como, em 5 minutos, a mamã já ia na maca a caminho do bloco, para a cesariana. No meio do pânico, acho que me portei bem.
No bloco acabaram de preparar a mamã e puseram uma máscara com “uma coisa fresquinha para relaxar”. A Avó R. veio dar um beijinho e nem a deixaram ficar lá, tão mal já devia estar a coisa. Apaguei.
Estava a sonhar quando me acordaram. Ainda tinha o tubo na garganta. Quando o tiraram perguntei logo por ti “e ela como está?”, ouvi-os chamarem a Avó R. e só faltava o papá. Foi a minha segunda pergunta “e o J.?”.
Fui para o recobro e vieram trazer-te. Mas a mamã não conseguia abrir os olhos. Fico tão triste só de pensar…. Não tive aquele momento tão especial que deve ser só da mamã e do bebé… Não foi por minha culpa, mas custa-me tanto pensar nisto…
O papá e a Avó R. foram os primeiros a ver-te. Dizem que choraste logo e bem! Aliás, estavas tão bem que nem precisaste de incubadora!
A mamã seguiu para os Cuidados Intermédios e tu ficaste no berçário. Toda a gente te conhece como a bebé que estava sozinha, porque não havia mais bebés nesse momento. Até acabaste por ficar na sala das enfermeiras, para não estares sozinha...

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